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O ASSÉDIO SEXUAL NÃO É SELETIVO - ENTREVISTA

  • Foto do escritor: Fala, Mana!
    Fala, Mana!
  • 7 de jun. de 2018
  • 3 min de leitura

Isabele Machado e Luana Vitória de Araújo


Fonte: Universidade Federal de Juiz de Fora

Infelizmente, é cada vez mais corriqueiro ouvir relatos de mulheres que sofreram algum tipo de assédio sexual, seja na rua, no ambiente de trabalho, no mundo virtual, ou até mesmo por seus conjugues. Um Levantamento realizado pela campanha #chegadefiufiu com 7.762 mulheres internautas revelou, por exemplo, que 81% das participantes já deixaram de fazer alguma coisa de que gostaria, como sair a pé ou ir a algum lugar, por medo de sofrer assédio.


De acordo com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, promulgado no Brasil, a agressão sexual, escravidão sexual, prostituição, gravidez e esterilização forçadas ou qualquer outra forma de violência sexual de gravidade comparável constituem crimes contra a humanidade. O assédio sexual feminino está entre esses crimes, ele é um cancro na sociedade que deve ser erradicado ou continuará interferindo no direito de ir e vir das mulheres, independente de classe social.


E ao contrário do que muitos pensam, não são apenas as mulheres com pouca escolaridade e de periferia que sofrem ou presenciam o assédio. Para confirmar essa realidade, conversamos com duas professoras universitárias. Doutora Irisdalva Sousa e Doutora Patrícia Gomes de Carvalho.

Ao ser perguntada se já sofreu ou presenciou situações de assédio sexual, a professora Irisdalva respondeu:

“Diretamente não, mas cantadas, comentários, convites para sair de alguns alunos… Presenciei comentário de um dono de uma escola para uma professora (relacionado ao corpo dela).”

Ela acredita que o assédio sexual é fruto da nossa cultura e do comportamento que eles acreditam que devem seguir:

“Cultura, geração machista. Porque os homens para serem considerados homem, precisam conquistar sempre, e muitas vezes não respeitam o local e as pessoas”.

De acordo com a professora Patrícia, o assédio sexual é

“algo muito recorrente dentro do serviço de saúde considerando que a maioria é mulher… Dentro da Universidade, especialmente no nosso departamento (Enfermagem), a gente não tem esse tipo de problema, considerando que 95% dos professores do departamento são mulheres, então já dificulta um pouco essa abordagem de assédio sexual”.

Ela ainda complementa dizendo "eu, particularmente, não sofri nenhum tipo de assédio sexual nem na universidade nem no ambiente hospitalar, nem como enfermeira e nem como docente, porém eu já ouvi relatos de colegas enfermeiras e também de técnicas de enfermagem que já sofreram esse tipo de assédio no serviço na sua grande maioria por parte dos médicos, mas eu particularmente nunca sofri com isso."


Infelizmente todas as mulheres estão sujeitas a esse tipo de violência, independente de classe social, situação econômica, escolaridade, etc. E isso somente comprova que as mulheres não tem culpa por serem assediadas.


Pra finalizar, a professora Patrícia deixa sua opinião sobre esse tema:


“A cultura de assédio sexual é tão presente na vida das mulheres considerando vários aspectos, especialmente aspectos históricos e sociais, em que a mulher era vista como submissa ao homem, ela não ocupava os postos de trabalho mais importante, então ela tinha uma submissão histórica e social. Claro que isso tem mudado bastante! E essas modificações têm barrado muito esses assédios, com relação aos aspectos legais, mas ainda acontece. Na enfermagem, isso é mais presente ainda porque a maioria dos profissionais são mulheres. E aí, essas mulheres estão mais propensas dentro do ambiente de trabalho. Isso se favorece por várias situações, histórico-sociais de que o homem é superior a mulher, de que a mulher tem que servir o homem e que a mulher está ali como um objeto sexual desses homens. E muitos ainda pensam dessa forma. Não podemos descartar, também, a cultura machista que ainda é muito presente e ela só pode ser mudada com a educação que vem de casa, a educação também dentro da sociedade, mas especialmente a educação de dentro de casa. Porque se um filho, uma criança do sexo masculino, é criada em um ambiente em que o pai ou outros familiares que ele tem convivência são machistas e tratam a mulher com essa submissão, sendo um objeto, essa criança vai crescer com grandes chances de reproduzir esse tipo de comportamento, então acredito que seja isso. Especialmente em decorrência da posição da mulher na sociedade, e do pensamento machista de muitos homens de acharem que as mulheres são objetos sexuais que elas estão ali para servir esses homens e que eles são mais poderosos e acham eles tem esses direitos sobre as mulheres”.


Esperamos que cada dia, nós mulheres, percebamos o nosso potencial, o nosso poder. E que não fiquemos caladas diante de qualquer situação que nos incomode, e nos cause danos.

Não se cale!

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