UM GRITO NO SILÊNCIO
- Fala, Mana!
- 2 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
" Era uma noite fria, chovia, eu estava escondida debaixo dos meus lençóis, enquanto relampejava e chovia sem parar. Adormeci!
No meio da noite, acordei, senti a presença de alguém, me observaram e eu podia sentir seus olhos como imãs, que me puxavam para perto do seu corpo.
Eu lutava, lutava pra não ser levada em sua direção, quando ao fechar os meus olhos e pedir pra que tudo acabasse ali, senti sua mão na minha coxa, pressionando com força, sentia a vontade no toque, e como em um piscar de olhos, ele estava lá, sobre o meu corpo, com aquele olhar de desejo, se achegando para mais perto de mim, eu via o contorcer dos seus lábios, como se eu fosse uma presa e ele meu predador.
Eu senti medo, repúdio, tristeza, raiva, dor, nojo, e vergonha. Tentava gritar, e gritava no silêncio, gritava, gritava bem alto, e som algum saía, palavra alguma eu conseguia pronunciar, a não ser, "pare", uma única palavra que saía da minha boca, em tom tão baixo, que eu mesma sequer ouvia.
E nessa fração de segundos, de angústia e dor, ele continuava se colocando contra meu corpo, e eu chorava, as lágrimas desciam, caiam de meu rosto como cachoeira, eu só queria que tudo alí parasse.
Eu estava sem forças, só conseguia pensar em como eu me sentia suja, imunda. Ele sussurrava em meu ouvido "pare de chorar sua besta, e aproveita o parquinho". Essas palavras, essa única frase, ecoou na minha cabeça durante horas, meses e anos, e por mais que o tempo passasse, não importava a quantidade de banhos tomados, eu sempre me sentia uma vadia, sentia que eu havia permitido tamanha atrocidade, e sentia nojo do meu corpo. NOJO, ÂNSIA, REPULSA. Eu estava ferida, um machucado que jamais se curaria.
E todas as noites, naquela mesma hora em que eu havia perdido a minha vida, minha alma, eu ficava alí, deitada escondida debaixo dos lençóis, olhando fixo para uma brecha de luz que vinha da janela, esperando em silêncio o dia que eu poderia ser livre novamente.
Esse dia jamais chegou, e eu morri aos poucos"...
- Texto escrito por: Laís Vitória
(Seguidora do Fala,Mana! E defensora da causa das mulheres!
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NÃO SE CALE!
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